Editorial

5 de Dez de 2002

Meu livro de cabeceira no momento é The Making of Strategy: Rulers, States and War (Williamson Murray, 1996). Trata-se de uma série de case studies, por vários autores, sobre a formulação da estratégia nacional em diversas situações históricas, desde a Atenas de Péricles até os EUA da Guerra Fria.

Mas não são os case studies a parte mais relevante para o primeiro editorial da revista. Leia-se a dedicatória:

Àqueles – camaradas, amigos, conhecidos e estranhos – que morreram no Vietnã porque seus líderes não tinham paciência com a história e com os imponderáveis que são o material da história.

O mesmo sentimento permeia a introdução. Os autores seguem Clausewitz de perto e recusam-se a dar uma definição formal de estratégia, preferindo defini-la como “um processo, uma adaptação constante a condições e circunstâncias mutáveis, em um mundo dominado pelo acaso, incerteza e ambigüidade”. Mas alguns fatores, por mutáveis que sejam, são permanentes em desempenhar um papel na arena estratégica: geografia, história, ideologia (ou religião, ou cultura), economia, a estrutura de um governo. Ignorar estes fatores – ou pior, utilizá-los incorretamente – freqüentemente leva ao desastre. Os autores prosseguem:

(…) é mais importante tomar decisões corretas nos níveis político e estratégico do que nos níveis operacional e tático. Erros em operações e táticas podem ser corrigidos, mas erros políticos e estratégicos vivem para sempre.

Um exemplo marcante dessa dicotomia foi a estratégia soviética durante a 2ª Guerra Mundial. O emprego de ferramentas exclusivamente ideológicas para a formulação da estratégia levou a desconsiderar a possibilidade de um ataque à URSS pela Alemanha. A política soviética para a paz foi derrotada em 1941 e em muito contribuiu para os desastres no campo de batalha. Por outro lado, uma reavaliação estratégica levada a cabo em 1942 e 1943 levou, afinal, à vitória militar, apesar de várias derrotas localizadas.

Assuntos Estratégicos tem a ambição de abrir corações e mentes aos diversos aspectos que devem ser levados em conta na formulação de uma estratégia nacional. Nós pretendemos suscitar uma “consciência estratégica” que procure enxergar a relevância estratégica nos mais diversos campos. Para isso, freqüentemente recorreremos à história – magister vitae por excelência – mas nunca abandonando o momento atual.

Fico feliz em trazer Assuntos Estratégicos a público. Esta revista é um sonho antigo, agora materializado graças à tecnologia da Internet. Estimado leitor (ou leitora), fique à vontade para participar da revista. Escreva-nos, opine, critique; sua colaboração é imprescindível. Tenho certeza que há um grande potencial de estudos estratégicos em português ainda por ser explorado; ajude a descobri-lo.

Somente assinantes podem enviar comentários.

Assine agora!

Já tem uma assinatura? Entre!

LC, o Quartelmestre

Também conhecido como Luiz Cláudio Silveira Duarte. Escritor, poeta, pesquisador, jogador, polímata, filômata... está bom para começar.