A natureza humana refletida

19 de Mar de 2016

Os romances do século XIX estão fora de moda, salvo para quem gosta de Literatura com maiúscula, independentemente da sua data e (especialmente) independentemente de serem ou não obras “engajadas” (palavra já caindo em desuso, eu sei).

Muita coisa mudou nestes últimos dois séculos, mas não a natureza humana. Vejam, por exemplo, este comentário que Stendhal coloca a meio de O Vermelho e o Negro (tradução de Paulo Neves):

Pois é, senhores, um romance é um espelho que se leva por uma grande estrada. Ora ele reflete a vossos olhos o azul do céu, ora a imundície do lodaçal da estrada. E o homem que transporta o espelho nas costas será por vós acusado de ser imoral! Seu espelho mostra a imundície, e acusais o espelho! Acusai antes o grande caminho onde está o lodaçal, e mais ainda o inspetor de estradas que deixar a água empoçar-se e o lodaçal formar-se.

O espelho que revela a imundície não é imundo. Nem o homem que o carrega, e que é por isso amaldiçoado. Ele mostra o que vai aos pés mesmo daqueles que caminham olhando para o azul do céu. E a culpa sequer é do lodaçal, mas daquele cujo descaso, incúria ou malícia o criou.

Preciso ser mais claro? Espero que não; não sou bom em desenhos.

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LC, o Quartelmestre

Também conhecido como Luiz Cláudio Silveira Duarte. Escritor, poeta, pesquisador, jogador, polímata, filômata... está bom para começar.