A divisão do ódio
Leio em El País uma peça de opinião, escrita por Carla Guimarães, jornalista brasileira radicada na Espanha, a respeito da situação política no Brasil.
Antes de passar ao ponto principal que quero comentar, menciono um trecho do texto dela que merece reparo:
A história narrada pelos meios de comunicação e defendida nas ruas foi quase perfeita, se não fosse por um pequeno detalhe: Dilma não é acusada em nenhum caso de corrupção. No entanto, muitos dos responsáveis por levar adiante o processo de impeachment são.
A presidenta não é acusada de enriquecimento pessoal ilícito. Mas ela é acusada de ter se beneficiado de dinheiro sujo para suas campanhas eleitorais, em 2010 e 2014. O Tribunal Superior Eleitoral ainda não se manifestou sobre o caso da eleição de 2014, e os depoimentos e provas sobre a eleição de 2010 surgiram apenas recentemente.
Isso também é uma forma de corrupção.
Mas estas não são as acusações que embasam o pedido de impeachment. Os defensores da presidenta atribuem o processo à vingança do deputado Eduardo Cunha. Ele recebeu dezenas de pedidos de impeachment contra a presidenta, alguns do quais incluíam as acusações que mencionei acima, e não os acolheu.
O pedido de impeachment que ele, de fato, acolheu, trata de outro assunto: crime de responsabilidade em razão de desrespeito às leis orçamentárias. Não trata de corrupção.
A corrupção levou Dilma à presidência, e lá a manteve por mais de cinco anos; mas não é a corrupção que está levando ao seu impedimento.
Isto posto, passo ao ponto principal que quero comentar. Cito novamente o texto de Carla Guimarães:
Patricia e eu estamos irremediavelmente brigadas. Ela defende a saída da presidenta Dilma. Ela diz que, como seu pai, faz parte de uma revolução. Eu, como o meu, digo que o que está acontecendo no Brasil é um golpe.
Este é o legado mais pernicioso de toda esta crise: o ódio. O discurso que incansavelmente enxerga inimigos mortais em quem discorda é sempre a marca do extremismo político — de esquerda , de direita , ou de qualquer outro ponto da experiência política.
A História mostra que TODAS as formas de extremismo político levaram ao desastre, muitas vezes de forma sangrenta.
O extremista insiste em enxergar o mundo de forma binária, em branco e preto, sem quaisquer matizes ou tonalidades.
É um pressuposto da democracia que você deve respeitar a opinião discordante da sua. Aceitá-la. Se a opinião discordante ganhar o apoio da maioria, ela por sua vez deve respeitar e aceitar as outras opiniões.
Aceitar e respeitar não é odiar quem discorda.
Espero que Carla e sua prima Patrícia façam as pazes. Os políticos que elegemos espelham as nossas atitudes; vamos dar-lhes o exemplo.
http://brasil.elpais.com/brasil/2016/05/15/opinion/1463331141_358555.html
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