Jornalismo e "isenção"
Os criadores de palavras de ordem e de manifestações espontâneas contra a mídia manipuladora e (muitas) outras asneiras cansam profundamente, entre mentiras, distorções e invenções.
Ocorreu-me comparar duas notícias recentes (31 de agosto e 1º de setembro), ambas publicadas pelas organizações Globo (no portal G1). A Globo, claro, é a grande vilã para a canalha que mencionei acima, e para a súcia que segue as ordens das palavras. Mas o argumento que exponho a seguir vale para todos os órgãos de imprensa, que seguem o mesmo procedimento.
Primeira notícia: José Dirceu se torna réu pela segunda vez na Operação Lava Jato . No texto da reportagem, os leitores tomam conhecimento de que José Dirceu, criminoso condenado pela mais alta corte do país, e com sentença transitada em julgado (sem falar em outra condenação, da qual ainda recorre), tornou-se réu em novo processo. Após expor estes fatos, a reportagem menciona que entrou em contato com o advogado de José Dirceu, para ouvir a sua versão. Neste caso em particular, o advogado disse que ainda não iria se manifestar.
Segunda notícia: Polícia faz nova operação para prender traficante Fat Family no RJ . Nesta reportagem, os leitores são informados que a polícia estava realizando mais uma operação para prender o traficante Nicolas Labre Pereira de Jesus, conhecido como Fat Family . Nenhuma palavra sobre advogados ou outros representantes de Nicolas de Jesus.
Não localizei qualquer notícia que indique se Nicolas de Jesus já fora condenado, em algum momento, pelos crimes que lhe foram imputados. Para fins de argumentação, vou supor que ele foi condenado. José Dirceu, como se sabe, é criminoso condenado.
Por que um criminoso condenado é tratado com tanto cuidado, com a imprensa fazendo todo o possível para dar-lhe a palavra, ao passo que outro condenado é tratado como apenas mais um criminoso? Por que a reportagem não procurou o advogado de Nicolas de Jesus, para perguntar-lhe se seu cliente era inocente?
Não existe jornalismo isento , como qualquer estudioso de processos de comunicação pode comprovar. Mas impressiona que a canalha insista em condenar e vilipendiar os mesmos media que a tratam com luvas de pelica. Todos os dias, somos brindados com novas notícias sobre os milhões de reais que foram roubados de nossos bolsos pelas muitas quadrilhas que dividem o poder, e os media sempre rastejam ante os acusados e seus advogados, forçando-nos a ouvir estultices que coram frades de pedra.
É claro que a canalha continua a escrever e a aparecer nos mesmos media que condena e vilipendia. Da mesma forma que têm a coragem de apresentar recursos jurídicos e, neles, afirmar que não reconhecem legitimidade ou imparcialidade no próprio julgador a quem dirigem os recursos.
Que criminosos sejam tratados como criminosos.
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