Conformismo
Ouvi há pouco, no rádio, a notícia da prisão do ex-deputado Eduardo Cunha. Há um ano, um dos líderes políticos mais importantes do país; hoje, prisioneiro à disposição da Justiça.
Conversando sobre a notícia, eu refletia que o efeito mais pernicioso dos crimes cometidos por toda a súcia que ocupa a República — e não me refiro apenas ao PT, nem apenas à última década — não é o assalto ao nosso bolso, ou mesmo o efeito desastroso sobre os serviços e a economia.
O efeito mais pernicioso destes crimes é o conformismo.
É o conformismo que leva muitos a supor que as coisas são assim, sempre foram assim, e sempre serão assim.
O argumento, profundamente canalha, que diz todos fazem, então não se pode condenar só alguns , faz uso consciente deste conformismo, e ao mesmo tempo o alimenta.
O homicídio é um dos raros crimes que provavelmente foi condenado em todas as sociedades humanas, desde que estas sociedades se formaram. Muitas vezes as penas para os homicidas foram bárbaras e cruéis; mesmo hoje, em muitos lugares o homicida paga seu crime com sua própria vida.
Esta longa história cruenta não fez com que os homicídios deixassem de existir. Se fosse aplicado ao homicídio o mesmo argumento canalha citado acima, teríamos que desistir de perseguir e condenar homicidas.
As ações da Lava Jato não vão resolver a corrupção, nem acabar com ela. Nada, em nenhum momento, o fará. Da mesma forma, o homicídio continuará a acontecer, e muitos, muitos outros crimes continuarão a acontecer. É triste saber que muitos destes crimes serão acobertados pelo manto da legalidade presumida que se aplica aos atos de agentes públicos, mas eles vão continuar a acontecer.
Não importa. Ao mesmo tempo que o lado sombrio de nossa natureza nos leva a cometer crimes, o lado radiante nos leva a enfrentar a treva. Um lado e outro sempre existirão, e por isso nenhum deles jamais conseguirá uma vitória definitiva.
Não lutamos para conseguir uma vitória que sabemos inalcançável. Combatemos porque este é o bom combate.
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