Covardia pública
Leio, há pouco, uma notícia sobre a demissão de Gabriel Vaz, estagiário de engenharia civil, em Maringá, por publicar comentários sexistas na Internet.
Não vou me dar ao trabalho de discutir os comentários em si, e muito menos de repeti-los; eles não merecem uma coisa ou outra.
Meu interesse diz respeito a três pontos entre os atos do responsável. Primeiro, conforme a reportagem, ele retirou os comentários de sua conta. Segundo, ele disse que foi uma brincadeira mal interpretada, dirigida a amigos que pensam como ele, e que não tinha a intenção de ofender ninguém. Terceiro, ao ser interpelado pela empresa na qual trabalhava, teria argumentado que tudo o que estava no Facebook era privado e que ele exercia a garantia constitucional de liberdade de expressão; para mais, como os comentários já haviam se espalhado, ele não poderia apagá-los.
O primeiro ponto tem sido quase que cotidiano. Alguém escreve uma canalhice, uma asneira, uma ofensa, ou qualquer outro texto reprovável. O texto é divulgado, as condenações abundam, e o responsável apaga o texto. Às vezes pede desculpas e diz, como o estagiário aqui, que não queria ofender ninguém.
Eu costumo dizer que erros e problemas acontecem com todos. O que mostra a seriedade de uma pessoa, ou empresa, é a forma com que lida com o problema e procura corrigi-lo.
No caso deste estagiário, a sua resposta à empresa na qual trabalhava mostra que ele não considera errados os seus comentários. Neste caso, fica a pergunta: por que não os mantém, exercendo o seu legítimo direito de liberdade de expressão? Ainda que ele os tenha apagado para tentar preservar o contrato, por que não os republica agora?
Não concordo com seus comentários, e os condeno. Porém, se ele assim pensa, que tenha a coragem de defendê-los, ao invés de esconder seu ódio nas sombras.
Ele alegou, ainda, que dirigiu seus comentários a amigos que pensam como ele, mas que se espalharam. Peço vênia para duvidar da sinceridade de sua declaração. Um estudante universitário, especialmente nas engenharias, tem alguma familiaridade com as ferramentas da Internet. Existem algumas que são um pouco restritas — penso, por exemplo, em um grupo do WhatsApp, ou em um grupo fechado do Facebook.
Mas os textos que ele escreveu foram publicados, e ele ainda usou hashtags, indicando que ele não pretendia restringi-los a uns poucos amigos seletos.
Aproveito a oportunidade para lembrar a Gabriel Vaz que, na Constituição Federal, a liberdade de expressão — atrás da qual ele procura se esconder — está consignada no art. 5º, IV ( é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato ); mas o inciso V, que se lhe segue, traz outro dispositivo não menos relevante aqui: é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem . Outros incisos, outros artigos da nossa Constituição dispõem sobre temas conexos; e nossas leis, por mais que sejam vilipendiadas, continuam sendo nossas leis.
A liberdade de expressão não é um direito absoluto. Gabriel foi macho o bastante para publicar suas ideias ofensivas; seja agora homem o bastante para não se esconder da merecida reação.
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