Saindo da esquerda
Nos últimos dias, li dois textos bastante impressionantes. Um, de Mario Vargas Llosa, no qual pede desculpas a seu filho Álvaro, de quem se afastou por continuar a acreditar na honradez do ex-presidente peruano Alejandro Toledo — hoje um foragido internacional, mais um dos muitos políticos comprados pela corrupção brasileira.
O outro, um mea-culpa de natureza diversa, foi de Fernando Gabeira, lembrando que, quando jovem, ironizava o lema da antiga UDN “O preço da liberdade é a eterna vigilância” (uma frase do político irlandês John Philpot Curran, no fim do século XVIII). Gabeira reconhece que não é possível baixar a guarda contra ladrões de todos os pontos do espectro político.
As retratações de Mario Vargas Llosa e de Fernando Gabeira não são novidade; muitos, antes como agora, são os que engajaram suas almas e, muitas vezes, seus corpos, em prol de ideais que podem ser chamados “socialistas” (pelo menos em certos contextos), e que depois publicamente renegaram os líderes que antes seguiram, ou os ideais que antes professaram, ou ambos.
Vamos voltar um pouco no tempo. Durante a Guerra Fria, notícias sobre pessoas que fugiam dos países socialistas para o Ocidente eram comuns. Bem menos comuns eram notícias sobre pessoas que faziam o caminho inverso. Minha impressão pessoal é que o fluxo foi muito maior no primeiro sentido do que no segundo, mas posso estar enganado; agradeço se alguém puder me passar dados confiáveis sobre o assunto.
A foto abaixo, que ficou famosa em 1961, mostra um soldado da Alemanha Oriental fugindo para o Ocidente, dias após o início das obras no Muro de Berlim — o mesmo muro onde pelo menos 136 pessoas morreram ao tentar passar do Oriente para o Ocidente, nos 18 anos seguintes.
Lembro, ainda, de uma frase famosa, incorretamente atribuída a muitos homens famosos do século XX: “Quem não é um liberal aos 25 anos não tem coração, quem não é um conservador aos 35 anos não tem cabeça”.
Muito bem. Há muitas pessoas sérias que começaram suas vidas como socialistas, e continuaram assim por todas as suas vidas. Há muitos que, como mencionei acima, se desiludiram e abandonaram, em algum grau, o socialismo.
Peço aos leitores que indiquem pessoas que fizeram o caminho contrário. Certamente existem, não duvido disso. Mas, neste momento, nenhum nome me ocorre.
Mas não creio que seus números sejam elevados, e suspeito que sequer cheguem perto da proporção entre os dois fluxos de desertores da Guerra Fria.
http://brasil.elpais.com/brasil/2017/02/18/opinion/1487417093_458938.html
http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/fernando-gabeira-lobos-e-vovozinhas/
Somente assinantes podem enviar comentários.
Assine agora!Já tem uma assinatura? Entre!