Lula e os doutores
Como é de amplo conhecimento, ontem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva depôs, como réu, perante o juiz federal Ricardo Soares Leite, da 10ª Vara da Justiça Federal em Brasília.
O réu dirigiu-se ao juiz com a devida cortesia. Os trechos abaixo, logo do início do depoimento, assim o demonstram.
Eu não sei, eu tou tentando chutar aqui, doutor […] depois o advogado manda pro senhor aí. […] Eu queria aproveitar a oportunidade, doutor Ricardo, para dizer ao senhor […]
A parte interessante é contrastar a cortesia do réu com algumas de suas manifestações passadas.
‘Tá vendo? Eu não tenho mesmo curso superior, mas quem carrega papel para mim tem… todos eles têm curso superior’, disse Lula a um ministro, depois de receber um discurso das mãos de um assessor. (conforme o livro Viagens com o Presidente, de Eduardo Scolese e Leonêncio Nossa).
A profissão mais honesta é a do político. Sabe por quê? Porque todo ano, por mais ladrão que ele seja, ele tem que ir pra rua encarar o povo e pedir voto. O concursado, não. Ele se forma numa universidade, faz um concurso e está com o emprego garantido. (discurso do réu em 14 de setembro de 2016).
Lembro-me sempre, com profunda vergonha, de ter visto os professores da Universidade de Brasília, minha alma mater, aplaudirem de pé o então presidente eleito, quando ele bradou que não precisara de diploma para ter sido eleito presidente.
O réu menosprezou por toda a sua vida adulta o saber e o ensino, e vilipendiou por toda a sua vida adulta os “doutores”. Isso não é relevante para qualquer dos processos nos quais foi indiciado… mas não resisto a apontar a triste ironia de vê-lo rastejando ante um funcionário público com curso superior, e certamente temendo os papéis que o magistrado lhe entregar.
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