Rafael e a Segunda Frente (II)
Esta postagem serve como um complemento à anterior, sobre o jogo Second Front. O Rafael Weibel comentou que, comandando o Eixo, gosta de abandonar a Sardenha e a Córsega. Respondendo a isso, o Luiz Augusto P. Silva disse “Só para complicar: abandonar a Sardenha e a Córsega significa expor toda a costa oeste da Itália e o sul da França ao alcance aéreo aliado e assim à uma invasão.”
Sim e não. Isso é verdade, e a ocupação da Córsega foi relevante para a operação Dragoon, em agosto de 1944.
O problema é que a Córsega não está assim tão perto da costa sul da França para permitir a operação dos caças de curto alcance — por exemplo, os Spitfires, que são a espinha dorsal da armada aérea dos Aliados.
Eu já fiz algumas invasões fora da zona de combate dos caças de curto alcance. Em alguns casos, até consegui formar uma cabeça-de-praia decente; mas, sem os caças, é impossível ganhar as batalhas para expandir as cabeças-de-praia, ou mesmo defendê-las.
Parte deste efeito se deve à escala do Second Front. Neste jogo, a escala é de 16 milhas para um hexágono. Sejam três aeronaves com alcances de 8, 10 e 12 hexágonos. Em um outro jogo qualquer, a escala é de 80 milhas por hexágono. O designer deste jogo poderia, tranquilamente, colocar todas aquelas três aeronaves com alcance de dois hexágonos em seu jogo, e não estaria errado. Mas a granularidade maior da série Europa (que usa uma escala fixa) introduz diferenças significativas.
(Também é importante notar que o alcance operacional de uma unidade aérea no Second Front não é o alcance operacional de uma aeronave daquele tipo. Os turnos duram duas semanas, e assim o alcance no jogo representa a capacidade de um esquadrão manter operações naquela distância dentro deste período.)
Mas tem mais. Digamos que os Aliados conseguiram fazer um desembarque minimamente decente nas praias do sul da França, e conseguiram expandir um tanto a cabeça-de-praia. Agora é necessário usar as tropas que chegaram lá, para sua missão principal: destruir unidades alemãs e reconquistar a França.
O problema é que não há meios logísticos adequados. Há menos portos de grande porte do que no norte (de cabeça, lembro apenas de Marseille e de Toulon), e quase não há linhas ferroviárias utilizáveis.
Junte tudo isso e o resultado é que Dragoon não pode ser a invasão principal, mas apenas uma invasão subsidiária — exatamente como foi na realidade. E nem adianta pensar em invadir em 1943; como o Rafael Weibel mencionou, fiz isso na Bretanha e quebrei lindamente a cara. Os Aliados precisam esperar 1944, por vários motivos: (1) tropas do Eixo são enviadas para a frente oriental; (2) há mais e melhores aeronaves dos Aliados; (3) há um pouco mais de embarcações anfíbias.
Nenhum wargame, por melhor que seja, consegue ser mais do que uma simulação de algumas das características da realidade. No caso do Second Front, certamente há muitas características que poderiam ter sido implementadas de forma diferente. Mas, conforme o próprio designer (John Astell), os principais parâmetros de design foram determinados pelas restrições percebidas pelos próprios estudos dos Aliados, durante a guerra.
Lidar com estas restrições é que cria os desafios magníficos deste jogo.
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