Meu tio admirado

17 de Set de 2018

Recebi hoje a notícia triste do falecimento de meu tio Raimundo, irmão de meu pai. Meu tio vinha enfrentando diversas doenças já há anos; ele tinha acabado de completar 78 anos.

Para além das consequências da idade avançada, boa parte dos problemas de saúde de meu tio tinham origem bem conhecida.

Ele foi oficial da Marinha do Brasil. Era um homem brilhante; foi um dos pioneiros em computação no nosso país.

Não conheço os detalhes, mas sei o bastante. Nos anos de chumbo da ditadura, ele recebeu uma ordem ilegal de um almirante, e se recusou a cumpri-la, mesmo quando ameaçado.

O almirante ordenou que ele fosse internado na ala psiquiátrica do hospital Marcílio Dias. Ele passou alguns anos lá, sofrendo com o isolamento e com a forte medicação. Foi reformado por invalidez. Ao sair, era uma sombra do homem que fora.

Recuperou parte de sua saúde. Após o fim da ditadura, tentou reaver, nos tribunais, sua patente e seus proventos. Não conseguiu.

Mesmo que tivesse conseguido, seria impossível reaver seus anos perdidos e sua saúde perdida.

Sei que o caso dele não foi único. É fácil esquecer que os abutres da ditadura devoravam os seus tão facilmente quanto os “inimigos”.

Mas algumas memórias ficam.

Descanse, meu tio.

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LC, o Quartelmestre

Também conhecido como Luiz Cláudio Silveira Duarte. Escritor, poeta, pesquisador, jogador, polímata, filômata... está bom para começar.