Perdendo licenciaturas
Leio um artigo na New Yorker, que comenta o declínio na porcentagem de formandos em cursos de História nos EUA, e os efeitos perniciosos para a sociedade causados por este declínio.
Provavelmente não passamos, aqui no Brasil, por uma diminuição do número de licenciaturas em História. Mas as licenciaturas de forma geral, e a História em particular, têm sofrido há décadas com o descaso da sociedade e do governo. Em fins de 1981, quando decidi abandonar o curso de Medicina, minha intenção inicial era prestar vestibular para História. Meu pai ficou chocado com a perspectiva de eu me tornar professor e procurou me dissuadir disso, dizendo que era uma profissão sem futuro. Adelaide relata reações semelhantes em sua cidade, quando ela disse que iria fazer o curso de Letras.
Esta visão depreciativa das licenciaturas era e continua a ser generalizada. Nos últimos anos, foi perversamente associada a uma condenação ideológica abrangente, com o fantasma da doutrinação por professores – especialmente de ciências humanas – em todos os níveis da educação.
Nas últimas décadas, os alunos que vão para as licenciaturas são frequentemente os piores candidatos aprovados no vestibular. O declínio observado em indicadores de rendimento escolar tem sua origem não nos anos do PT – que em nada melhorou o quadro, e na verdade o piorou –, mas vem de décadas de descaso. Um descaso, reitero, compartilhado por governo e sociedade.
Vemos agora o resultado péssimo destas décadas. E, em razão dele, queremos piorar mais ainda o quadro e destruir o que resta. Não é necessário ser grande profeta para saber o efeito disso em vinte ou trinta anos.
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