Os vazamentos do Intercept
O assunto dos próximos dias, provavelmente semanas, será a divulgação do conteúdo das conversas de Sérgio Moro e dos integrantes da força-tarefa da Lava Jato.
A esta altura, é completamente irrelevante se este conteúdo é ou não verdade. O próprio Sérgio Moro já tinha lançado suspeitas sobre si, ao aceitar a nomeação como ministro de Estado e a promessa de uma cadeira no Supremo. Estas informações agigantam estas suspeitas – mas o problema não acaba aí.
Mais grave é o sério risco de ver anulados muitos dos processos e resultados de cinco anos de investigações. Mais um castelo de areia que se esboroa quando a maré sobe. Mais uma vez, parece ter havido descuido e amadorismo por parte dos agentes da Justiça.
Com respeito aos vazamentos em si, ofereço à sua consideração uma cronologia do que parece ter acontecido. As fases marcadas com asterisco são públicas, as demais são fruto da minha especulação. Da fase 6 em diante, é especulação para o futuro.
- Crackers profissionais realizam uma campanha de invasão e coleta de informações nos sistemas de comunicação dos envolvidos com a Lava Jato.
- As informações obtidas são passadas ao The Intercept – talvez a outros órgãos?
- Na primeira semana de junho, os crackers revelam que realizaram estas invasões. A revelação é ostensiva – Sérgio Moro recebe um telefonema de seu próprio número.
- Na tarde de domingo, The Intercept revela uma parte do material, a tempo de sair uma matéria no Fantástico. Parte do conteúdo revelado sugere, no mínimo, desvios de ética por parte de Sérgio Moro. A matéria do The Intercept faz questão de afirmar que receberam o material dias antes da divulgação dos ataques cibernéticos (3).
- Na noite de domingo, Sérgio Moro e o MPF/PR soltam notas condenando a invasão criminosa de seus sistemas e a divulgação leviana do material pela imprensa. O ponto mais importante, aqui, é que as notas não afirmam que os conteúdos divulgados são falsos: dizem que foram tirados de contexto, que são informais, etc. etc. etc.
- Seguem-se manifestações públicas de advogados, políticos, ministros do Supremo, todos reiterando a necessidade imperiosa de apurar os fatos graves etc. etc. etc.
- Novas informações vêm a público, desta vez com conteúdo muito mais daninho – conteúdo suficiente para efeitos como a demissão de Sérgio Moro, a anulação de uma parte significativa dos processos, etc. etc. etc.
Como eu disse, é especulação, mas fundamentada. No sábado eu ainda conversava que era estranha a revelação, pelo próprio cracker, de que o celular do Sérgio Moro tinha sido invadido. Naquele momento, atribuímos a motivação do cracker a mero desejo de notoriedade. Os acontecimentos de domingo revelaram uma provável motivação muito mais séria.
Como eu indico em (7) acima, provavelmente há conteúdo mais daninho no que ainda vai ser revelado. E é aqui que retorno ao que disse acima: é irrelevante se o que vai ser divulgado é verdadeiro ou não.
Ainda que nada mais haja de antiético ou ilícito no conteúdo não revelado, o fato de as notas de ontem não afirmarem a falsidade deste conteúdo dá aos crackers a possibilidade de incluírem informações falsas à vontade a partir de agora.
Para acabarem com a operação Mãos Limpas mataram um juiz. Aqui, estão matando a credibilidade de um juiz – e com os seus próprios atos. Muito mais eficaz.
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