Os problemas do "Future-se"

19 de Jul de 2019

A profa. Andrea Caldas apresenta em seu artigo uma perspectiva sobre alguns dos aspectos mais negativos do projeto Future-se. Ela tem razão nas críticas que aponta. Mas o perigo pode ser mais sutil.

Felizmente, existe ainda grande resistência à ideia de privatização das universidades federais. Sei que há forças muito poderosas trabalhando por esta privatização, já há bastante tempo: as universidades são um vasto repositório de ensino e pesquisa. São, acima de tudo, produtoras de INFORMAÇÃO: a mais valiosa das mercadorias no mundo de hoje.

Justamente porque há resistência à ideia de privatização, o projeto Future-se pode estar incluindo ideias mais ostensivamente privatizadoras como o  bode na sala . Tira-se o bode e o resto fica.

Mas este resto…

  1. Fundo da autonomia financeira das Ifes
Para que o programa seja viável será constituído um Fundo, vinculado ao Ministério da Educação, com a finalidade de possibilitar o aumento da autonomia financeira das Ifes, bem como ampliar e dar previsibilidade ao financiamento das atividades de pesquisa, extensão, desenvolvimento, empreendedorismo e inovação, por meio do fomento a novas fontes de recursos, os recursos relacionados ao projeto deverão ser vertidos em Fundo de investimento, que será selecionado mediante procedimento simplificado.

Ao contrário da profa. Andrea Caldas, não considero condenável, por si, a ideia de permitir que as universidades busquem recursos privados para complementar as verbas públicas. Mas este trecho da proposta mostra a peçonha: os recursos privados obtidos por uma universidade não serão utilizados ou geridos por ela mesma, mas vão integrar um fundo geral, controlado pelo MEC.

Alguém vai se surpreender se o dinheiro deste fundo for usado para tapar buracos do orçamento e não para ser repassado às universidades?

E por que raios uma universidade irá buscar apoio externo para um projeto de pesquisa, se o dinheiro obtido não será revertido naquele projeto?

A resposta a esta última pergunta é simples. As universidades vão fazer isso porque não terão escolha. Mais uma vez haverá uma chantagem explícita, como fez o governo Lula com o Reuni. As universidades são livres para decidir se aceitam ou não participar do programa.

Mas, se não aceitarem, deixam de receber recursos federais.

E, se aceitarem, também deixam de receber recursos federais, exceto os provenientes deste fundo.

A peçonha não afeta apenas as universidades. É mais uma forma mal disfarçada de meterem a mão no bolso da sociedade.

A proposta transforma as universidades em arrecadadoras de recursos privados para a sanha insaciável do Estado. Mas não apenas isso: usa as universidades como isca de um mal disfarçado estelionato.

Somente assinantes podem enviar comentários.

Assine agora!

Já tem uma assinatura? Entre!

LC, o Quartelmestre

Também conhecido como Luiz Cláudio Silveira Duarte. Escritor, poeta, pesquisador, jogador, polímata, filômata... está bom para começar.