A universidade como linha de montagem
Em entrevista a Ana Carla Bermúdez, do UOL, o ministro Weintraub defende a proposta “Future-se” com base em argumentos que tratam uma universidade como uma linha de montagem.
Quando o aluno não se forma, [o dinheiro] foi jogado na privada. […] Mais de 50% de desistência está errado. Eu faço um vestibular, eu coloco 100 alunos para dentro, e um professor reprova 80% da classe, o problema não é da classe, é do professor. Eu tenho um grupo de professores concursados: entram 100 alunos e se formam 15, porque tem muito curso que a quantidade de alunos que se formam é 15%. Está errado o grupo de professores, algo muito errado está acontecendo por lá.
Por um lado, o ministro usa a imprecisa expressão “tem muito curso que” como base para uma afirmação completamente generalizadora, como se todos os cursos fossem iguais. Mas, além disso, o ministro iguala todos os motivos que levam um aluno a não concluir um curso de graduação. Desconhecimento prévio sobre o que era o curso ou a profissão, necessidade de trabalhar, mudança de um curso para outro, dificuldade de aprendizado… todos estes fatores, e muitos outros, pesam para a saída de um aluno de graduação.
O pior: claramente, o ministro acha que o diploma é uma consequência necessária do vestibular; é o equivalente da aprovação automática que tanto mal causa ao ensino fundamental e médio, e cujos efeitos se fazem sentir no ensino superior.
Uma universidade não é uma linha de montagem de diplomas. É profundamente triste que as escolas fundamentais e médias tenham se transformado em linhas de montagem de alunos; é desastroso que um ministro da educação queira levar isso também para a universidade.
A entrevista deixa claro que o ministro faz malabarismos com os números, escamoteando ou disfarçando os que quer. Por exemplo:
[T]em muito pouco aluno por professor, abaixo de 12 alunos por professor, em uma universidade federal. Enquanto na Europa, nos Estados Unidos, a gente está falando aí de acima de 25, 30 [alunos por professor].
Ao longo da entrevista, o ministro mais de uma vez se refere a Harvard como referência. Seja; vamos então usar os dados de Harvard. 13.120 alunos (entre graduação e pós-graduação) e 2.400 docentes – aproximadamente 5,4 alunos por professor. Metade da carga média apontada pelo ministro para o Brasil, e um quinto a um sexto da que ele delira existir em outros lugares.
Por que é de delírio que se trata. Weintraub integra um governo que sistematicamente ignora e contesta números e indicadores, sempre que estejam em conflito com a irrealidade imaginada. No meio ambiente, na política de drogas, nas relações internacionais, – ou na educação.
Ao mesmo tempo que o ministro lamenta índices baixos de qualidade, quer que todos os alunos ingressantes recebam seus diplomas. Vamos simplificar e economizar: que se entreguem os diplomas aos aprovados nos vestibulares. Podemos, a seguir, fazer um sorteio entre os aprovados para selecionar o próximo ministro da educação.
Somente assinantes podem enviar comentários.
Assine agora!Já tem uma assinatura? Entre!