Destruindo tempo e espaço

21 de Dez de 2019

Já que o momento é o de mais uma estreia de Star Wars, vou aproveitar para discutir algo que me incomodou bastante no filme The Force Awakens (2015), e que já me incomodara antes em outro filme – Star Trek (2009) –, do mesmo diretor, J. J. Abrams.

O problema que eu identifico está nas estruturas narrativas dos filmes. Em ambos, a relação entre espaço e tempo desaparece. Portanto, também desaparecem as tensões criadas por esta relaçõe.

A relação espaço-tempo de uma narrativa cria situações que afetam os personagens e as suas ações. Especialmente em filmes que se passam em uma galáxia distante, no qual os personagens viajam de um sistema solar para outro, as grandes distâncias criam, na narrativa, a passagem do tempo para os viajantes. Enquanto isso, outros personagens têm tempo de fazer outras coisas.

Como acontece com qualquer elemento de uma narrativa, esta relação pode ser subvertida. Isso foi feito de forma magistral em Dunkirk (2017), de Christopher Nolan. Lá, o espaço era relativamente restrito e fixo, com linhas de tempo narrativo completamente diferentes, mas que convergiram no final do filme e criaram um perfeito clímax.

Abrams também subverte a relação, mas o que consegue é apenas destruir a coesão da sua narrativa. Todos os personagens e suas ações passam a ser contíguos, no tempo e no espaço. Personagens em um sistema vêem, em tempo real, o que acontece em outro sistema. Há comunicação instantânea, mesmo com espaçonaves que estão em vôo hiperluz. O ritmo é acelerado, mas não se traduz em movimento e sim em frenesi.

Este descaso com uma tensão fundamental em qualquer narrativa condena, de saída, a qualidade destes filmes.

Somente assinantes podem enviar comentários.

Assine agora!

Já tem uma assinatura? Entre!

LC, o Quartelmestre

Também conhecido como Luiz Cláudio Silveira Duarte. Escritor, poeta, pesquisador, jogador, polímata, filômata... está bom para começar.