Saindo de grupo
Saindo de um grupo de amigos no WhatsApp, durante a pandemia de covid-19, revoltado e amargurado com a enxurrada de mentiras.
Meus amigos:
Eu trabalho na área de tecnologia de informação, profissionalmente ou não, há quase quarenta anos. Comecei a usar a Internet alguns anos antes desta ferramenta ser aberta ao grande público, há mais de vinte e cinco anos. Continuo me mantendo atualizado; hoje mesmo estou realizando a configuração de um computador remoto, nos EUA, onde vai rodar um dos sistemas que eu mantenho no ar.
Para além disso, vocês estão muito familiarizados com a minha curiosidade por tantos assuntos, que me leva a procurar conhecer mais sobre tanta coisa. Em muitas áreas, tenho conhecimentos que são incomuns para um não-especialista.
O conhecimento mais importante que adquiri foi o de buscar a informação: onde, como, quando encontrar uma informação; e, quase tão importante, aprendi como procurar aferir a sua veracidade. Não é nada extraordinário ou difícil, porque há apenas dois tipos de ferramentas para isso. Uma está em suas mãos, em celulares ou computadores; a outra está entre suas orelhas.
Por mais necessário que seja em nosso admirável mundo novo, por mais fácil que seja usá-lo, este é mais um conhecimento que poucos detêm. Pior, é mais um conhecimento que a maioria desdenha como desnecessário.
Não sou ninguém especial. Tenho sempre presente a frase que Newton tornou famosa: se eu enxergo mais longe, é porque me apóio sobre os ombros de gigantes. Sobre os ombros de muita gente que me precedeu, gigantes ou não.
O fato é que eu vejo longe. Uma das minhas maldições pessoais é que eu sempre quero ajudar outros a também enxergar longe, a também aprender a subir os ombros dos gigantes. Esta semana vi uma frase que me calou fundo. Era uma brincadeira: “aspiro a inspirar antes de expirar”. Senti-me plenamente descrito ali.
Já há anos que vejo, entre estarrecido e desesperado, a perversão da informação para atender a propósitos sórdidos. Vejo isso em um crescendo. Tento ajudar outros a verem a onda que se aproxima, quase sempre sem sucesso.
Fico ainda mais desesperado ao ver pessoas queridas, familiares e amigos, tornarem-se vítimas, cúmplices ou mesmo perpetradores destes crimes.
Porque é de crimes que se trata, ainda que não estejam descritos no Código Penal… e agora, com uma epidemia vitimando centenas de milhares de pessoas mundo afora, nem isso: o crime está descrito no nosso Código Penal, como em tantos outros, há tantos milênios.
Distorcer a informação, pervertê-la e disseminar a mentira é matar.
Tenho a grande felicidade de ter vocês todos como amigos. Estou ao alcance de uma mensagem ou de um telefonema, como sempre estive. Converso sobre qualquer assunto que queiram, sempre aprendendo e ensinando, como fazemos há tantas décadas.
Permanecer aqui, no entanto, tornou-se pernicioso para mim. Um abraço a todos.
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