O caminho

blog 25 de Fev de 2021

Lembro de uma inquietação que sempre me atingia no colégio, durante as aulas de Português, quando a professora pedia a leitura em voz alta de algum trecho do livro. Eu ficava incomodado, irritado mesmo, ouvindo colegas gaguejarem e tropeçarem, confusos com sinais gráficos que eu já dominava. “Por que não pede que eu leia?”, pensava o jovem.

Muitos anos depois é que eu entendi que o objetivo do exercício não era produzir uma leitura perfeita, ou ao menos correta. O objetivo era fornecer uma oportunidade para aprendermos, e também para exercitarmos conhecimentos que ainda não sabíamos aplicar. É por isso que as professoras preferiam pedir a leitura aos colegas que gaguejavam e tropeçavam: o exercício era mais para eles do que para mim.

Incidentalmente, em algumas ocasiões nas quais eu fui convidado a ler, fosse perante a turma ou perante o colégio todo, eu também tinha meus tropeços. Meu “domínio” não era tão extenso quanto eu supunha – mas esta também foi uma lição que demorei a aprender.

Há uma queixa comum a muitas pessoas. “Na hora que eu aprendi a fazer direito, mudei de função”. É mesmo um dos aspectos principais do Princípio de Peter, familiar aos estudiosos de administração: em uma organização, as pessoas são promovidas até excederem seu nível de competência.

Esta queixa mascara um ponto fundamental, que também era mascarado pela minha inquietação infantil. O foco é o aprendizado! É o exercício da capacidade de aprender – e, por definição, o que aprendemos é novidade…

Alguém que é capaz de continuar a aprender tem uma ferramenta poderosíssima em mãos. Quando o sistema de ensino consegue instilar isso em alguém, concede-lhe algo mais poderoso que qualquer outro conhecimento ou diploma.

Continuo aprendendo a ser pai, e nunca quero parar de aprender. Eu jamais conseguirei dizer “pronto, sou um bom pai, missão cumprida”. Da mesma forma, continuo tentando aprender a ser um bom marido, mesmo depois do fim de meus casamentos – também levei anos a entender a lição das aulas de português, afinal.

Palavras-chave

LC, o Quartelmestre

Também conhecido como Luiz Cláudio Silveira Duarte. Escritor, poeta, pesquisador, jogador, polímata, filômata... está bom para começar.