Nada reconfortante
Já mencionei, em alguns artigos, a série Sandman, criada por Neil Gaiman e publicada pela DC Comics. Há dois dias, uma rápida conversa com meu amigo Marcelo me recordou um dos melhores números da série.
Marcelo havia me mandado uma mensagem, na qual dizia “fenômeno estranho, esse de negação da ciência”. Esta discussão há anos frequenta as nossas conversas, mesmo antes do recrudescimento negacionista neste século.
Respondi-lhe, e minha resposta foi o que me fez pensar no Sandman – para ser exato, a história publicada no nº 18, A dream of a thousand cats (“Um sonho de mil gatos”), com arte criada por Kelley Jones, Malcolm Jones III e Robbie Busch. Em uma cena importante da história, a protagonista – uma pequena gata siamesa – fala que foi ao Sonhar em busca de justiça, revelação e sabedoria.
Esta foi a resposta que recebeu:
A resposta que dei a Marcelo foi “A ciência não dá respostas, não dá soluções, não dá garantias, não dá certezas.” O que a ciência nos dá é um pouco de conhecimento sobre o nosso mundo e sobre nós mesmos.
Como todos os sistemas de conhecimento, a ciência tem limitações. Algumas são conhecidas, outras ainda não conhecemos. O ponto forte da ciência é a sua capacidade de autocorreção.
Pode ser que, em momentos de maiores riscos e maiores incertezas, muita gente rejeite a realidade e prefira uma figura paternalista, que abrace e diga “vai ficar tudo bem, deixa que eu cuido de todos os problemas, você não precisa se preocupar nem fazer nada”. A ciência não tem como atender a este desejo.
Pessoalmente, prefiro olhar o mundo de frente. O mundo não é “justo”, e todos os conhecimentos da ciência não são capazes de proporcionar sabedoria.
Mas – ah! – as revelações que a ciência nos traz!