Hoje e amanhã
No último fim de semana, fiz uma viagem ao Rio de Janeiro. Fui a passeio, em ótima companhia. A última vez que eu estivera em minha cidade natal, a passeio, foi há trinta anos.
Bel e eu passamos pouco mais de dois dias lá. Foi o bastante para apreciarmos a bela Praia da Reserva; para reencontrar minha querida prima Flávia, que eu não via há mais de quarenta anos; e para renovar o prazer de encontrar meu confrade Edward.
Na manhã de sexta, chegamos ao aeroporto Santos Dumont, e fomos caminhar pelo Centro. Não caminhamos a esmo, mas procuramos orientar nossos passos na direção do Museu do Amanhã, que Bel conhecia e que queria rever.
Rever aqueles prédios e aquelas ruas foi uma sensação preciosa. Passamos por lugares que eu não via há mais de cinquenta anos, desde um verão cujas cicatrizes ainda marcam minha alma. Pena que não consegui passear pela Rio Branco, para visitar o prédio onde meu avô Luiz tinha seu escritório, e no qual fica a magnífica livraria Leonardo da Vinci. Fica para a próxima.
Pensei novamente nele, ao almoçar na Confeitaria Colombo, relembrando como ele gostava de comprar presuntos e outros víveres ali.
O ponto mais marcante da viagem foi, sem dúvida, a visita ao Museu do Amanhã. Tive que vencer minha irritação com o péssimo design da chegada de um visitante – pensando tanto no sentido da experiência do usuário, quanto no sentido da implementação do sistema de compras de ingressos. Mas, vencida a barreira da estupidez institucional, conseguimos entrar, e lá consegui esquecer a minha irritação.
Este não é um museu de exibições de artefatos. Ele é um museu de ideias – ideias sobre o nosso amanhã. Como em qualquer museu, não se encontram lá explicações detalhadas, ou propostas exaustivas. Ele oferece um panorama, e assim nos convida a ver o panorama, e a nos aproximarmos dos pontos mais atraentes.
Vi duas exibições imersivas, uma sobre as cidades futuras, e a outra…
A outra exibição nos mostra nosso contexto. Algo como a série Cosmos, de Carl Sagan, condensada em alguns minutos, dentro de um ambiente assemelhado a um planetário.
Alguns minutos, sim, mas minutos de impacto atordoante.
Saindo desta exibição, passamos a um salão com exibições um tanto menos imersivas, mas com sua força aumentada pela sensação que ainda me aturdia.
Já nos dirigindo à saída do museu, passamos por uma sala despretensiosa, com muitas pessoas sentadas ao redor de um artefato antigo, em madeira, colocado verticalmente no centro de um pedestal largo. Fiquei curioso e me aproximei.
Era o churinga – uma peça de madeira, com grande significado religioso para algun povos aborígenes da Austrália. Sua presença no Museu do Amanhã é simbólica: o texto que acompanha a peça fala de como ela representa o poder da narrativa.
Saí de lá novamente aturdido. Há décadas que eu aprecio, crio e interpreto narrativas, e conheço bem o seu potencial. Neste dia, eu recebi todo o peso da nossa narrativa comum, e saí renovado por isso.