A pompa de Nínive
Ontem, caminhando pela praia, encontrei um belo castelo de areia. Uma bela obra de fortificação: dois torreões, um fosso, uma muralha…
Sejam elaborados ou não, é da natureza dos castelos de areia que desapareçam rapidamente, o mais das vezes vencidos pelas marés. Enquanto eu o fotografava, lembrei de algumas linhas do poema Recessional, de Rudyard Kipling:
Lo, all our pomp of yesterday
Is one with Nineveh and Tyre!
(Vede, toda a nossa pompa de ontem / Une-se a Nínive e a Tiro!)
Recessional é dotado de uma beleza sombria, e muito dele traduz melancolia provocada pela constatação da impermanência, da transitoriedade.
Falei, acima, que a impermanência é da natureza dos castelos de areia. Mas também é a marca de todas as nossas obras, de todos os nossos pensamentos. Nada há de errado com isso; mas o anseio pela permanência, por criar um legado “perene como o bronze” é, na verdade, uma forma insidiosa de arrogância.
Nada há de errado com a impermanência, e vou além: ela é necessária – porque nós precisamos criar! Contemplar o belo, o instigante, o comovente é maravilhoso, mas a maravilha aumenta quando esta contemplação passa a ser o propelente para nossa criatividade. Criamos mesmo quando contemplamos, porque criamos nossos significados sobre o que contemplamos.
Uma das características mais interessantes do processo de design é que as restrições incentivam a criatividade. Ao invés de brigar com a restrição da impermanência, prefiro levá-la em conta, e seguir criando.