Sem Nexo
Conheci o Nexo, um noticioso digital, em fevereiro deste ano. Um amigo me enviou o link para uma matéria nele, chamada “O jogo de tabuleiro que pode levar até 62 dias para acabar”, escrita por Murillo Otavio. Ela trata do The Campaign for North Africa, um jogo do qual já falei em outras ocasiões.
Achei o site interessante, e mesmo o assinei para poder ler algumas matérias. Quanto à matéria sobre o CNA, ela tinha algo de positivo, mas me incomodei com os muitos erros e imprecisões no texto. Decidi escrever à redação, e enviei-lhes o texto abaixo:
Amigos do Nexo, em especial o Murillo Otavio:
Chamou a minha atenção a matéria “O jogo de tabuleiro que pode levar até 62 dias para acabar”, de 14 de fevereiro passado. O CNA é, de fato, um jogo superlativo, e por isso continua a chamar a atenção, mais de 40 anos após sua publicação.
No entanto, há várias imprecisões no texto. Aceito o risco do pedantismo, e peço licença para enumerá-las.
. “ele é composto de um pano de três metros de comprimento” – incorreto, pois não é um pano e sim um mapa em papel, composto por cinco seções.
. “desequilíbrios emocionais da tropa” é enganoso; o jogo modela o chamado “moral da tropa”, mas isso nada tem a ver com eventuais “desequilíbrios emocionais”.
. “soldados que não recebem seu alimento tendem a ficar imediatamente desorganizados” – incorreto, não é este o efeito descrito nas regras do jogo; “tornando-se jogadores inúteis no campo de batalha” – duplamente incorreto, pois não são “jogadores” e muito menos ficam “inúteis”.
. “vence quem conquistar o território inimigo” – incorreto, as condições de vitória são bastante fluidas, e variam conforme o cenário ou a campanha.
. “o jogo foi criado pelo Redmond Aksel” – Redmond Simonsen (o Aksel é seu nome do meio, mas nem ele o usava) era o “developer” de jogos na SPI (aproximadamente “produtor”), mas o criador do jogo foi Richard Berg.
. o último paragrafo está tecnicamente correto, mas não tem qualquer relação com o jogo, pois não houve recrutamento ou “convocação forçada” nesta região, no período abordado pelo jogo.
. finalmente, falar em levar 62 dias é profundamente enganoso; as regras originais falam em “pelo menos 1200 horas”, mas a reportagem da Open Culture arredondou isso para 1500 horas, o que equivale a pouco mais de 62 dias – só que é de todo impossível jogar por 62 dias de 24 horas, sem qualquer intervalo!
Peço licença para informar que eu conheço bem o jogo, um de meus preferidos perenes; tenho a honra de ter jogado algumas partidas dele, desde a década de 1980 (cenários, nunca a campanha completa), com meus amigos da Confraria Lúdica. O grande problema dele sempre foi uma grande massa de informações em papel; o uso de computadores facilita enormemente este jogo.
Oito meses depois, não recebi qualquer resposta, e a matéria não foi modificada em qualquer ponto. Não incluo os links, nem do Nexo, nem da matéria, porque não vejo motivo de melhorar sua pontuação em mecanismos de busca.
Não renovei a assinatura. Qualquer que seja a qualidade de seus outros textos, o descaso com a manifestação de um assinante, e o descaso mais importante com a correção do que publicaram, me sinalizaram muito claramente que não merecem a minha atenção.