Saudade
Mais uma vez, estou em plenos preparativos para uma mudança. Sigo em frente, desbravando mares que outros já desbravaram, pelas águas criando sulcos e fazendo marolas que duram apenas momentos. Não importa: são os meus momentos, e vão criando o que sou e o que serei. Tudo que sou, levo comigo.
Fiz esta foto hoje cedo, enquanto caminhava pela praia, apreciando o nascer do Sol. Neste meu período aqui, vi vistas magnificamente belas nestas praias. Algumas, fotografei; e algumas das fotografias transmitem uma parte significativa, que consegui capturar, de um momento. Sempre breve, fugaz mesmo: rapidamente, mudam as circunstâncias que produziram aquele momento único. Não posso entrar duas vezes no mesmo rio, nem posso caminhar duas vezes pela mesma praia.
Mas o meu espírito não é como a água, e guarda os sulcos e as marolas feitas por cada momento – esta unidade, simultaneamente imprecisa e preciosa, com que fingimos contar nosso tempo.
Um amigo querido vê a foto, e me diz “sentirás saudade”. Sentirei, sim. A saudade é velha companheira; como qualquer pessoa querida, é capaz de abraçar e reconfortar, e também de ferir e desesperar. Mas eu tenho muita fortuna em amigos, mesmo com a saudade, e sei que ela mais me reconforta do que me desespera.
Na verdade, as saudades que mais ferem são as falsas: as saudades do que sonhei, mas nunca tive. Palavras que não disse, sorrisos que não beijei, carinhos que não fiz.
E mesmo falsas, mesmo ferindo, são tão preciosas quanto as que reconfortam. Também elas fazem quem sou – e também nelas sou afortunado.
Como é bom ter tanto de que ter saudades!