Ex chaos
Primeira consulta com um psiquiatra. Eu estava com 36 anos, em plena atividade. Trabalhava, cuidava da família. Mas algo não estava bem. Eu não estava bem.
Não me incomodei em buscar um psiquiatra. Ao longo da vida, eu já havia visto reações iradas – “não tenho que ir a um psiquiatra, não sou doida!” – ou depreciativas – “isso não serve para nada!”. Mas eu não compartilhava destas ideias. Para mim, era apenas uma consulta com um médico.
Aquela foi a primeira, sim. Mas não foi nada singular. As consultas foram ficando mais frequentes. Quinze anos se passaram assim. Por metade deste período, as consultas eram mensais. O diagnóstico foi evoluindo nos primeiros anos, acompanhando as experiências com diferentes medicamentos. Nem ideia faço mais de quais medicamentos tomei, mas ainda lido com efeitos colaterais.
Intermináveis licenças médicas terminaram por se transformar em uma aposentadoria. Sofri assédio moral e passei por um processo administrativo. Meu primeiro casamento se desfez. Por algum tempo, pensei que precisaria ser interditado. Minha memória tem lacunas notáveis.
Mas… aqui estou. Raciocínio razoavelmente preservado.
Equilibrado entre fantasia e realidade. Entre sonhar e fazer.
Entre loucura e… sanidade?
Nunca me incomodei muito com os nomes dados a doenças. Muito cedo, eu aprendi que dar um nome a alguma coisa não é a mesma coisa que entendê-la.
Mas a minha doença tem nome. Um que eu nunca havia ouvido antes: transtorno esquizotípico.