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A árvore do jardim de minha casa, em Pontal do Paraná.

Felipe e Eugênia

Aventuras em um jardim.

24 de Set de 2023
A árvore do jardim de minha casa, em Pontal do Paraná.

Minha casa em Pontal do Paraná tinha uma árvore antiga, em um canto do jardim, na direção da praia. Sempre uma visão agradável, sempre um poleiro para inúmeras aves das vizinhanças.

Um dia, eu recebi a visita do meu amigo Felipe. Conversando, descobri que ele nunca havia trepado em uma árvore. Perguntei-lhe se queria aprender; um tantinho ressabiado, ele disse que sim.

Chegamos junto da árvore. A forquilha mais baixa ficava mais ou menos na altura do torso dele, então ele estava um pouco intimidado. Fui mostrando para ele pontos onde ele podia segurar, e pontos onde podia apoiar um pé. Orientava sem segurá-lo, apenas ficando bem junto, para ampará-lo se ele se desequilibrasse.

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Ele subiu um pouco, mas perdeu o ânimo e desceu. Eu lhe disse que não havia pressa, e que ele poderia voltar a tentar quando quisesse. Entrei e fui cuidar do nosso almoço.

Dali a pouco, Larissa foi à cozinha, seu sorriso enchendo a casa com alegria.

“Luiz Cláudio… O Felipe quis subir de novo, e eu fui ajudar. Bem que eu tentei, mas de repente ele olhou para mim e disse ‘mãe, vai chamar o Luiz Cláudio, eu preciso de um professor de verdade.’”

Foi a minha vez de rir, e prontamente fui para fora. Felipe estava mais seguro de si, e logo estava subindo nos galhos mais fortes da árvore. Ainda voltou a subir outras vezes, feliz da vida.

Quando iam voltar a Curitiba, ele foi até a árvore e deu-lhe um abraço de despedida.

Algum tempo depois, em outra visita, Larissa me contou que Felipe estava estudando um novo gênero textual no colégio: a carta. Disse que ele estava todo feliz com o novo conhecimento: já tinha escrito cartas para os avós, e recebido cartas deles.

A certa altura, Larissa estava no jardim, e notou um envelope branco entre os ramos da árvore. Felipe estava sentado no sofá, jogando no tablet, mas Larissa pediu-lhe que fosse pegar o envelope e ver o que era. Ele voltou surpreso: o envelope estava endereçado a “Sr. Felipe, sofá da sala”. Abriu e viu que era uma carta para ele, escrita pela ninfa que vivia dentro da árvore – uma hamadríade. Na carta, ela contava como ficava feliz em poder receber as visitas dele, e de como gostava de sentir aves ou gatos em seus galhos.

Ela foi tímida, e não assinou seu nome na carta; mas, algum tempo depois, eu descobri: Eugênia. Aliás, descobri nome e sobrenome: Eugenia umbelliflora, apelidada “guapê”.

Já não moro mais naquela casa tão acolhedora. Tenho certeza que Eugênia ainda vai receber muitas aves, uns tantos gatos, e algumas crianças.

Mas também tenho certeza que nem ela, nem Felipe, vão se esquecer destes dias.

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LC, o Quartelmestre

Também conhecido como Luiz Cláudio Silveira Duarte. Escritor, poeta, pesquisador, jogador, polímata, filômata... está bom para começar.