Castle Falkenstein

Alguns comentários sobre o RPG Castle Falkenstein e sua tradução brasileira.

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Este texto foi escrito como um comentário ao episódio 39 do podcast do grupo D30, meus grandes amigos de Brasília.

Parabéns pelo ‘cast, amigos. Muito interessante.

Fico muito feliz em ver Castle Falkenstein retornando ao Brasil. Pessoalmente, eu tenho uma crítica severa ao jogo, que provém de meu interesse perene em verossimilhança histórica: o Mar Interior. Felizmente, ele pode ser completamente ignorado, pois foi colocado no livro apenas para dar a razão para a existência de uma marinha bávara.

Mas é um jogo extremamente instigante, em seu ambiente e em suas regras. Uma das suas características mais interessantes está no fato de incentivar a criação coletiva da narrativa. Ao invés de usar um estereótipo pronto, como “guerreiro” ou “ladrão”, que é perfeitamente suficiente para muitos RPGs, em Castle Falkenstein o jogador já se envolve com a narrativa ao criar o conceito de seu personagem — e não pára aí. Como vocês colocaram muito bem, o envolvimento dos jogadores com seus diários e, muitas vezes, com props e outras atividades, ajuda a criar todo um ambiente muito especial.

Um breve reparo, que uso como gancho para uma consideração de mais relevo. Por volta de 19:50’, o Janary está se referindo ao texto e à ilustração da pág. 77 do livro base, no qual o Tom Olam menciona um duelo entre a bela Marianne e sua nêmesis, o conde von Erich. Janary se equivocou ao ler o texto em português: ele se refere à “auréola” do vestido de Marianne, mas o texto fala em “ourela” — uma forma mais rebuscada para “orla” ou “beirada”.

Como eu disse, este é apenas um leve problema em um podcast… mas ele traz à baila o principal problema com a edição de 1998, pela Devir: a tradução. Problema recorrente com traduções de RPGs no Brasil, infelizmente, e em parte decorrente de uma realidade inescapável: as edições de RPGs no Brasil são majoritariamente feitas por entusiastas e apaixonados por estes jogos, o que não necessariamente implica em terem capacitação técnica para a tradução e para a revisão destes textos.

Neste sentido, é muito bom que a nova edição parta para uma nova tradução. O texto que provocou o engano do Janary referia-se ao “hem” do vestido, que qualquer costureira no Brasil chamaria de “barra”; “ourela” simplesmente não é adequado aqui — e, infelizmente, este é um dos problemas menores na tradução de 1998.

A magnífica arte original de Castle Falkenstein, no jogo atribuída ao fictício “Tom Olam”, é obra de William C. Eaken. Pessoalmente, eu acho que o encanto causado por Castle Falkenstein resulta tanto do design de Mike Pondsmith quanto da arte de Eaken. Aliás, Pondsmith foi responsável pelo design mecânico e pelo design gráfico, mesclando de forma genial a arte com o texto.

Na década de 1990, eu e muitos amigos pensamos muito em fazer um live-action… mas não conseguimos arrumar um lugar adequado em Brasília para isso. Fico muito feliz em saber que conseguiram fazer isso no Rio de Janeiro.

Muito obrigado por este ‘cast. Abraço, amigos!



2024 Luiz Cláudio Silveira Duarte https://quartelmestre.com
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