Despedida
Em memória de um bom homem.
Recebi, ontem, a notícia do falecimento do sr. Décio, meu ex-sogro. Notícia esperada, mas não menos triste por isso.
Ele não foi mais uma das vítimas da covid. Mas não quero tratar aqui de sua morte, e sim de sua vida.
Nós nos conhecemos há onze anos. Naturalmente, no início ele era para mim o pai da moça inteligente e bonita que eu estava namorando. Adelaide já me havia falado dele; eu já sabia de sua longa carreira como professor, sabia do enfarte que sofrera no ano anterior, e sabia de seu bom humor.
Mais que humor, eu diria. Alegria. Contagiante. Uma alegria invencível, mesmo perante tantas dificuldades da vida. Ele não era dado ao riso aberto, nem à gargalhada. Discreto na alegria, como em tudo. Mas uma alegria sempre revelada em seus olhos, em seu sorriso.
Foi com esta alegria que o sr. Décio me acolheu, e me deu a honra de me receber em sua família.
Ao longo dos anos, fui conhecendo mais dele. Soube um pouco de sua infância, de seus estudos, de seu amor; da sua vida como filho, marido, pai, avô.
Da sua vida como professor.
Quem ensina conhece a alegria de compartilhar e de, com isso, aprender. A sua alegria inata lhe dava a energia para sempre, sempre, compartilhar o muito que sabia, e de continuar a aprender.
Raras vezes o tratei por professor. Eu logo percebi que havia uma relação muito forte entre ele e seus ex-alunos. O carinho que eles tinham pelo mestre era algo maravilhoso. Nunca tive o privilégio de tê-lo por professor, então passei a tratá-lo de forma mais familiar, “seu Décio”.
Nunca o tive por professor, verdade; mas quanto aprendi com ele!
Dele recebi muito amor, e é com amor que me despeço. Seu Décio, meu sogro querido: muito obrigado.