História

Lições do passado para um presente muito real e um futuro muito possível.

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Eu estava vendo, há pouco, o filme Judgement at Nuremberg (1961). Em especial, a cena na qual o personagem de Spencer Tracy está conversando com o mordomo e sua esposa, tentando entender como era a vida das pessoas na Alemanha nazista.

A questão da culpa coletiva da sociedade alemã passou por várias fases. Durante os primeiros anos da ocupação, havia uma convicção generalizada entre os Aliados de que havia algo fundamentalmente errado com a cultura germânica; algo que tinha que ser erradicado, para impedir uma nova guerra. Foi o momento da desnazificação, e dos julgamentos.

Depois, com a Guerra Fria, tornou-se necessário ter a Alemanha Ocidental como aliada, então o nazismo foi tacitamente varrido para baixo do tapete. Muitos dos condenados pelos tribunais militares tiveram suas sentenças comutadas ou perdoadas.

Ainda mais tarde, uma nova geração de juristas alemães voltou a tratar de casos ligados ao nazismo. Décadas já haviam transcorrido desde a guerra; quase todos os criminosos mais significativos já haviam morrido, ou já haviam sido julgados, então esta nova geração voltou seus esforços para a identificação e responsabilização de funcionários subalternos na máquina nazista, muitos deles ainda jovens durante a guerra.

Paralelamente a estes desenvolvimentos, a historiografia do período nazista se debruçava sobre a consciência social e cultural dos alemães. Mesmo quando não tratava diretamente da questão da culpa coletiva, muitas vezes parece haver um consenso sobre a responsabilidade coletiva da sociedade germânica.

Muito bem. Ocorre que, em nossos dias, estamos vendo crescer uma nova onda de autoritarismo. Nós vemos rostos familiares, de parentes e amigos, apoiando esta onda – seja em um grau contido, como “eles são horrorosos, mas o que dizem sobre X faz sentido”, seja em um grau mais entusiástico.

Mais ainda, vemos outros rostos familiares fazendo o mesmo. Não são os das pessoas do nosso convívio direto, mas as pessoas com quem temos convívio mediado pelos meios de comunicação. Podem ser políticos, jornalistas, profissionais.

Umas e outras são as pessoas em quem depositamos a nossa confiança. E, como sabe qualquer executivo de marketing, esta conquista é a mais importante.

Tanto há um século quanto agora, muitas vozes contestam as promessas vazias dos autoritários, mostram as suas falácias, e indicam muitos dos problemas graves que vão provocar.

Nada disso impediu a marcha para o cadafalso de toda uma geração, e continua a não impedir a atual.

Não tenho certezas a oferecer, nem respostas – até porque não consigo sequer formular perguntas satisfatórias. Mas olho em volta, penso no exemplo de tantas pessoas um século atrás… penso em tudo o que compartilhamos, que nos faz humanos… e estremeço.



2024 Luiz Cláudio Silveira Duarte https://quartelmestre.com
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