O acme
Ontem eu estive em uma consulta médica. Bons resultados, felizmente.
A certa altura da conversa, o médico mencionou o prazer que muitas pessoas derivam do ato de comer (ou de beber). Ele se referiu a este como um prazer efêmero, dizendo que ele acaba quando engolimos.
Depois que saí do consultório, fiquei refletindo sobre sua observação. De fato, os prazeres alimentares são, quase sempre, efêmeros; mas isso não impede que alguns deixem marcas na memória.
Lembro ainda da primeira vez que comi atum ralado, servido no carrinho de saladas do Grande Hotel de Araxá, há mais de quarenta anos. No mesmo hotel, comi um delicioso surubim. Tenho também a memória de alguns pratos feitos por minha mãe ou por minha avó. Nem toda memória alimentar é positiva: nunca mais consegui comer fígado.
Mas não é o sabor que fica na memória; de certa maneira, fica-nos a memória do prazer, e não do que causou o prazer – até porque o prazer é criado por vários componentes.
Inevitavelmente, esta reflexão me conduziu a dois dos prazeres que tanto aprecio em minha vida. Reiner Knizia disse, em uma entrevista, que jogamos tentando vencer, mas que não jogamos para vencer. É óbvio que a vitória dá prazer, mas este não eclipsa os demais prazeres do jogar. A vitória é, quase sempre, efêmera, e frequentemente rara; mas eu volto sempre ao jogar e ao seu complexo de prazeres.
O mais fugaz dos prazeres, claro, é o orgasmo – especialmente para os homens. Não é memorável em si; mas os prazeres derivado de quem me acompanha, e das circunstâncias que cercam o momento – aí está o memorável! Da mesma maneira que a vitória não é necessária para os prazeres do jogar, o orgasmo não é necessário para os prazeres do sexo.
Haverá mais vitórias e orgasmos, como haverá mais alimentos deliciosos. Continuo a tentar vencer… mas não é pela vitória que jogo.