Refúgio do Pinguim
Há pouco mais de três meses, mudei-me para esta nova casa, bem perto da praia. Ainda não sei quanto tempo vou ficar aqui, mas não estou preocupado com isso.
Já não lembro quando, ou porque, comecei a pensar em um nome para a casa. Em fins de janeiro, decidi-me por Refúgio do Pinguim. Já tive muitos apelidos; Pinguim é um que dos me trazem boas memórias, e ainda faz uma associação com uma praia na qual, às vezes, aparecem pinguins arrastados pelas correntes marítimas.
Certo, aí está o Pinguim. Mas… e o Refúgio?
Eu não havia pensando nesta questão, conscientemente, quando assim dei nome à minha casa. Mas hoje Laila me provocou a pensar nela; ainda não a conheço pessoalmente, mas espero logo ter este prazer, quando ela e meu pai vierem passar alguns dias comigo.
Pensando na resposta, eu me dei conta de que esta é uma ideia que há muito trago comigo. Há 35 anos, eu já dividia com uma amiga o sonho de ter a minha própria Imladris, a casa de Elrond em Rivendell, que Tolkien descreveu:
Frodo agora estava a salvo, na Última Casa Acolhedora a leste do mar. Como Bilbo tinha relatado, muito tempo antes, era “uma casa perfeita, quer você goste de comer, ou dormir, ou contar histórias, ou cantar, ou apenas de sentar e pensar, ou ainda uma mistura agradável de tudo isso”. Simplesmente estar ali era uma cura para cansaço, medo e tristeza.
– J. R. R. Tolkien, The Fellowship of the Ring
Esta era uma ideia recorrente para Tolkien. Poucos anos depois destas conversas, eu li e traduzi o primeiro capítulo do Book of Lost Tales, no qual Tolkien fala de Mar Vanwa Tyaliéva, o “Chalé da Brincadeira Perdida”; assim como Imladris, uma casa acolhedora, oferecendo agradável hospitalidade – e refúgio.
Não um refúgio onde fugir a perigos. Um refúgio no qual é possível, por algum tempo, esquecer cansaço, medo e tristeza.
Um refúgio no qual as regras mundanas têm menos importância do que as regras que criamos juntos.
Um círculo mágico – aquele lugar-tempo onde se desenrola o jogo, criado e mantido pelos seus participantes.
Ao pensar nisso, eu me dei conta que, há anos, dei forma à Imladris que imaginei há tanto tempo. Meus amigos sabem como me deleito em recebê-los em minha casa; mais de uma vez, minha casa foi para eles um refúgio, no qual podiam esquecer os problemas que enfrentavam em outros lugares. É, então,
uma casa perfeita, quer você goste de comer, ou conversar, ou contar histórias, ou jogar, ou apenas de sentar e pensar, ou ainda uma mistura agradável de tudo isso.
Meu refúgio não é algo que eu crie, ou recrie, em uma nova casa. É algo que eu carrego comigo, e que às vezes eu tenho onde desdobrar – ou plantar!