Segregações e integrações
O Retiro Lúdico e o Dia Internacional da Mulher.
Este ano, o Retiro Lúdico começou justamente no Dia Internacional da Mulher, e aproveitamos a ocasião para uma programação especial.
Cada uma das participantes ganhou um pequeno bombom de chocolate, em forma de pinhão – a fruta típica do Paraná.
Mas eu não queria que uma data tão importante passasse apenas com uma lembrancinha; por outro lado, eu sabia que não cabia a mim, como homem, decidir o que as participantes gostariam. Meses antes do Retiro, conversei com várias jogadoras e criadoras de jogos, pedindo sugestões e recomendações sobre como poderíamos marcar a ocasião.
Muitas boas ideias foram apresentadas e discutidas. Por exemplo, na noite de sábado, acertamos que cada mesa de jogo precisaria ter pelo menos uma mulher, e que caberia às mulheres escolherem que jogos seriam jogados, e quem os jogaria. Não era nada obrigatório, mas antes de me recolher verifiquei que a recomendação estava sendo cumprida.
A ideia mais importante foi a de realizarmos um bate-papo sobre as experiências e expectativas das mulheres, como jogadoras. Fizemos isso na tarde de sábado, durante o Café da Roça servido pelo hotel.
O bate-papo foi muito rico. Não tomei notas nem gravei, exceto em meu coração. Mas quero aproveitar para resgatar uma conversa que tivemos, antes do bate-papo, durante o almoço.
Durante a conversa, mencionei uma iniciativa de jogadoras em Brasília, que organizam noites de jogo abertas apenas a mulheres. Neiva, então, me perguntou o que eu acho deste tipo de iniciativa. Trago, aqui, a minha resposta, com algumas reflexões adicionais.
Primeiro, eu entendo perfeitamente a necessidade de haver espaços seguros para vítimas de preconceito. Isso é muito mais necessário quando o preconceito se realiza por violência, claro, mas mesmo um preconceito “leve” pode causar marcas e feridas profundas. Então, eu aplaudo e apoio iniciativas e lutas como estas.
Mas esta não é a minha luta. Não cabe a mim criar ou coordenar estes espaços, posso apenas apoiá-los.
O que eu posso fazer, e sempre procuro fazer, é lutar por uma transformação… lutar para que espaços seguros assim deixem de ser necessários!
Não tenho qualquer pretensão, ou ilusão, de que vou conseguir mudar a sociedade, ou o mundo. O que faço, o que muitas pessoas maravilhosas fazem, é acolher e integrar, criando espaços nos quais os preconceitos e os riscos (muito reais!) são minimizados ou eliminados.
Fiquei profundamente feliz em ouvir, das nossas participantes, que elas se sentem seguras e acolhidas no ambiente do Retiro Lúdico. Este ano, tivemos 21 mulheres, entre 46 participantes.
Mais ainda: o Retiro Lúdico sempre procurou ser um ambiente acolhedor para as famílias, e este ano tivemos a alegria de contarmos com a participação de um casal homossexual.
A luta continua.
Ou melhor, as lutas. Uma das facetas tristes do nosso hobby é que ele continua a ser, predominantemente, uma atividade para pessoas brancas e com bom poder aquisitivo. Isso é exacerbado em um evento como o Retiro Lúdico, realizado na região Sul e com um custo de hospedagem nada irrisório.
As lutas continuam… sempre. Mas sei que não estou sozinho.