Um abraço apertado
Lembrar, saber, temer.
No ponto, o ônibus para, e dele desce o menino. Sua mãe o espera. O mesmo sorriso brilha nos dois rostos; ela lhe pega a mochila, bem mais leve do que fora a sua, há tantos anos, e a põe ao ombro. Fica com os braços livres para abraçá-lo.
É mais que um abraço; ela o acolhe, estreita, aperta. Sem espalhafato, sem brincadeira: é alegria, junto a outros sentimentos aos quais não dá nome. Ele recebe feliz o abraço, e também o beijo que ela toca em seus cabelos.
Ele não rejeita os carinhos; claramente, está feliz também. Ele nunca conheceu um mundo sem ela, e sua sabedoria lhe diz que ela é seu mundo, e sempre o será.
Mas ela lembra bem de um mundo sem ele. Lembra, e teme que seu mundo volte a este estado. Por feliz que fosse antes, agora seus corações se tocaram, e não há volta possível.
Para ele, nunca houve mudança. Mas ela lembra e teme, porque sabe: sabe que ele deixou de ser aquele que ela levou dentro de si, ou aquele que ela nutriu ao seio, que acalentou, que carregou.
Lembra e sabe que também este momento, este abraço apertado, vai passar; e, sabendo, sempre teme que seja o último.
Os dois se vão, felizes, de mãos dadas. Ele caminha em pulinhos de alegria e despreocupação; e ela lhe dá a mão, orientando-o no início do caminho que ela não pode trilhar, dando-lhe a promessa da terra, ainda não descoberta, que ele vai criar.