Mestre profissional

Pois então... mais uma vez me aventurando, mas desta vez em uma aventura ligada ao RPG e não dentro de um RPG. Adentrando as fileiras dos "mestres de aluguel", os mestres profissionais de RPG.

Certamente experiência não me falta... O primeiro RPG que joguei foi o que hoje chamaríamos um homebrew, um RPG caseiro e improvisado. Foi em 1986. Eu e meus amigos havíamos lido algumas coisas sobres estes jogos, e resolvi improvisar um, baseando-me na história do primeiro volume de O Senhor dos Anéis.

Um raro cosplay... Com uniforme de almirante da Frota Colonial, mestrando uma aventura de Battlestar Galactica em São Paulo, na II RPGCon (2010).

Nenhuma surpresa: o resultado foi um desastre. Mas, no ano seguinte, meu amigo Adriano esteve em França, e me trouxe de lá um presente magnífico: a edição britânica do Middle-Earth Role-Playing. Trouxe também dois outros RPGs, estes em francês: Rêve de Dragon, que não chegamos a jogar; e a edição francesa do Pendragon – e a Matéria da Bretanha, as lendas arturianas, já me fascinavam!

Encerrando a campanha Horror on the Orient Express. Alguns dos participantes contaram suas experiências nas páginas do grupo D30.

Foi amor à primeira vista! Quase quarenta anos, e neste tempo todo terei passado apenas uns poucos meses sem estar com alguma campanha em andamento, ou ao menos com um grupo mais ou menos fixo de jogadores. Desde o princípio, assumi a posição de mestre das partidas – uma fácil herança dos nossos queridos jogos de tabuleiro, já que eu era o leitor de regras habitual do nosso grupo. Tive momentos, bem preciosos, como jogador; mas eu me realizo enormemente ao conduzir um grupo de amigos por uma narrativa emocionante.

Com a tripulação da nave Stardust III, jogando Projeto Terra, inspirado nas histórias de Perry Rhodan. Desta vez, estávamos usando a 5ª edição do sistema Hero.

Aí estão três palavras-chave: amigos, narrativa, emocionante. Nem vou tentar fazer a conta de quantos amigos fiz em mesas de RPG; a amizade de momentos compartilhados, de momentos significativos compartilhados. Por que significativos? Porque a narrativa cria este significado – especialmente por ser uma narrativa criada em conjunto. Uma combinação inerentemente emocionante – e eu não me refiro, aqui, à emoção "ostensiva" da narrativa. Não faz diferença se é uma história de aventuras, uma trama cheia de intrigas, ou um mergulho na tensão e no medo; todas estas emoções são a cobertura do bolo, recobrindo e enfeitando o verdadeiro doce, que é a emoção de criarmos, juntos, algo memorável.

O cenário de Grace Under Pressure é um submarino de pesquisa... precisei clarear um pouco a foto, porque estávamos usando apenas bastões luminosos durante a partida.

Eu gosto muito de explorar alternativas em minhas partida. Cenários históricos, histórias fantásticas pouco conhecidas, sistemas diferentes. Tenho muito pouco apreço pelo estilo mais comum de jogo, tão marcado pela influência do Dungeons & Dragons: por um lado, penso que ele é limitado demais, na mecânica e no tipo de história a que se presta; e, por outro lado, detesto a ética rapace de piratas, ao estilo "roubar-pilhar-destruir-fugir", que é tão fácil e tão comum neste tipo de jogo.

Jogando no Roll20. Ambientes digitais são convenientes em muitos tipos de histórias.

Também não uso muitos combates em minhas histórias. Um combate é provavelmente o sinal de que algo não deu muito certo... Mas há exceções. Uma das melhores campanhas que conduzi girava em torno das histórias de uma companhia de comandos britânicos, durante a 2ª Guerra Mundial, realizando missões atrás das linhas inimigas; é claro que esta campanha teve alguns combates, mas a própria natureza das missões impelia os jogadores a evitarem combates o mais possível.

Na biblioteca da UnB, jogando meu projeto ROMAMOR, baseado no Drama System.

Em quase quarenta anos de mesas de RPG, presenciais ou digitais, houve muitas, muitas histórias memoráveis; muitos erros que cometi; e muita coisa que produzi e que aprendi. Coordenei eventos; organizei grupos; ministrei cursos; criei histórias e sistemas; ensinei inumeráveis pessoas a jogarem, ou ao menos a conhecerem, estes jogos fascinantes.

Vamos continuar a criar esta história?


2024 Luiz Cláudio Silveira Duarte https://quartelmestre.com
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