O que persevera
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perdi minha mãe
bem cedo, bem jovem
foi em outra vida
restou a cratera
ficou dona Vera
austera severa
a mãe que perdi
não sei se sonhei
se foi só quimera
por anos a vi
cortar e ferir
matar e sorrir
um riso de fera
me dói perceber
que a mãe que amo
que cedo perdi
não se transformou
não se fez megera
assim sempre foi
não deixei de amar
tive que aprender
a me preservar
a me defender
fiquei ao seu lado
no leito final
tomei sua mão
por horas fiquei
eu a vi tentar
se apresentar
matrona impoluta
tão pura, tão vera
mas sua mão fria
já não conseguia
sustentar a face
com que escondia
o medo e a maldade
e sim, pude ver
o quanto temia
o que lhe viria
se foi sem sorrir