A cidadania romana

Confirmando o acerto de uma hipótese anteriormente condenada como insensata.

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Em 1997, comecei pela primeira vez um curso de pós-graduação stricto sensu: mestrado em História das Relações Internacionais, na minha alma mater – a Universidade de Brasília. Infelizmente não o concluí, em razão de uma série de desentendimentos.

Em todo caso, durante o período em que fui mestrando, passei em processo seletivo para professor substituto de História Antiga, na própria UnB. Ao longo dos dois semestres acadêmicos de 1998, ministrei três disciplinas para alunos da graduação.

Uma delas foi História Antiga 2. À época, a disciplina História Antiga 1 tratava da civilização helênica, e História Antiga 2 tratava da civilização romana. Adotei um recorte temporal específico para a disciplina: o período republicano. Isto contrariava a tradição do curso, que geralmente tinha seu foco no período imperial. Mas, conforme expliquei na primeira aula, era na República que se encontravam as origens de muitos desenvolvimentos do período imperial.

Incidentalmente, isso despertou o interesse de um ex-aluno da disciplina, que a cursara no ano anterior, e que pediu para assistir ao meu curso, para complementar seu estudo do período imperial. Autorizei, claro, e ele teve uma ótima participação na disciplina.

Havia ainda outro motivo, que também expus a eles: eu tinha muito melhores condições de tratar do período republicano do que do imperial, em razão de meus estudos. Nesta altura, a minha pesquisa tinha como objeto as relações internacionais entre Roma e os demais Estados da Itália, até a conclusão da Guerra Social (87 aC). Minha hipótese era a de que os Estados italianos formavam um sistema internacional – usando conceitos da chamada “escola britânica das relações internacionais”.

Parte essencial das minhas ideias era a de que a cidadania romana tinha funcionado como o elemento definidor do sistema internacional itálico.

A partir desta ideia, não é de surpreender que eu tenha dedicado uma das aulas de História Antiga 2 a explorar a cidadania romana e a sua importância. Foi uma aula bastante estimulante, com uma boa discussão com os alunos.

Diga-se de passagem: foi todo um semestre muito estimulante. A turma era animada, interessada e capaz. Um prazer dar aulas assim.

Hoje, estes fatos e ideias de um quarto de século atrás voltaram à tona, com um impacto muito pessoal. Tive a grata surpresa de ler um artigo do dr. Bret Devereaux, em seu blog: Collections: The Queen’s Latin or Who Were the Romans, Part II: Citizens and Allies. É a segunda parte de uma série que explora a autoidentidade dos romanos.

Neste artigo, Devereaux explora justamente o impacto exercido pelo conceito legal da cidadania romana na expansão romana; em suas palavras, a cidadania romana era radicalmente expansionista.

Meu projeto e minhas ideias sobre o assunto nunca foram publicados. Mesmo assim, sinto-me muito feliz em poder ler um texto que defende tantas ideias que eu havia desenvolvido no passado – e que, lamentavelmente, foram combatidas de forma bastante agressiva por alguns.

I’ve never wasted skull sweat on revenge; The Comte-de-Monte-Cristo syndrome is too much work and not enough fun. If I tangle with a man and he lives through it, I don’t come back later gunning for him. Instead, I outlive him – which balances the books just as well.

– Robert A. Heinlein, Time Enough for Love


2024 Luiz Cláudio Silveira Duarte https://quartelmestre.com
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