Jogos e riscos
Jogos digitais usam avanços tecnológicos para reduzir riscos sociais, mas qual é o preço a pagar?
Este episódio apresenta um insight, derivado de um tema que será explorado pelo meu amigo Arnaldo V. Carvalho, em palestra no dia 20 de junho de 2021, às 19:00 h. Mais detalhes na página do evento, organizado pela UTFPR. Quando o Arnaldo me avisou sobre o tema da palestra, minhas reflexões levaram a este insight.
Há uma característica da interação humana que escapa à interação mediada por sistemas tecnológicos, e penso que isso sempre vai continuar a acontecer.
Chamo esta característica de Presença. A palavra indica algo que depende da presença física de outra pessoa, mas que é propositalmente removida de qualquer interação mediada por tecnologia.
Refiro-me ao risco. Toda interação humana direta envolve riscos. Estamos deixando outra pessoa, possivelmente hostil, penetrar na nossa zona de conforto.
A tecnologia cria uma camada isolante para eliminar ou reduzir estes riscos. Ela introduz uma distância física, reduzindo o impacto da proximidade; e outros riscos podem ser evitados com um simples desligar.
Mas o compartilhamento de riscos é um cimento social eficaz. Qualquer força armada sabe disso – são os irmãos em armas, é a camaradagem das trincheiras.
Há algo de especial em olhar nos olhos de outra pessoa, sustentando ou afastando o seu olhar, enfrentando o desafio do reflexo fight-or-flight, ou o desafio do either we hang together, or we will surely hang separately.
Estes riscos a tecnologia nunca vai implementar, porque toda a nossa orientação como Homo faber é usar a tecnologia para reduzir riscos.
O mesmo efeito de redução de riscos acontece nas comunicações das redes sociais, e ajuda a explicar porque há tanta agressividade nelas.
Mais uma vez, os jogos podem funcionar como um microcosmo para explorar problemas e desafios colocados fora do Círculo Mágico.