Percepções e ilusões
Caminho por trilhas
Escuras, secretas
Ouvidos me soam
Conversas, canções
Os olhos me mostram
O que não está
Nem neles nem fora
Em sonhos vagueio
Há anos que eu sou portador de uma doença psiquiátrica, que foi diagnosticada como transtorno esquizotípico. Hoje já não tomo medicação, mas sei que ela está apenas sob controle, e pode ressurgir. Por causa disso, mantenho vigilância sobre minhas percepções. De certa forma, transformei o ceticismo científico em minha prática cotidiana, especialmente lembrando Carl Sagan – afirmações extraordinárias exigem evidências extraordinárias.
De fato, minha percepção me prega peças. Posso ver, com o canto dos olhos, alguma coisa se movendo; quase sempre, consigo identificar uma fonte real da percepção, mas às vezes não consigo. Isso não me preocupa, porque sei bem que percepções visuais equivocadas não são nada de mais.
Recentemente, identifiquei algumas ilusões auditivas, e isso me incomodou. Podia ser música, ou conversa, às vezes próxima, mas não o bastante para que eu identificasse. Mas terminei por descobrir o que parece ser a origem: isso sempre acontecia quando eu usava meu par de fones de ouvido digitais, que estavam com problemas; acho que estavam pegando interferência de algum outro aparelho. Hoje troquei os fones; estou curioso para ver se as ilusões se repetem.
Em todo caso, enquanto instalava os novos fones, os versos acima me ocorreram. O preço da minha sanidade é a eterna vigilância.